Ele atravessava a praça e garoava fino. Usava blusa quente e cachecol. Parou em frente à vitrine e viu o discurso na tevê.
“A leveza da vida. A densidade da alma. Um texto pesado começa assim.Em silêncio se eleva em letras e logo acelera. Leva você para longe. E nada mais pode ou existe além da palavra e da arte. Eu sou música e sentido, eu sou o que penso em ser e eu sou apenas sou e, sendo, sigo sendo eu mesmo. Repetido, confuso e texto, palavra e letras. Só precisam estar. O sentido é de cada um.”
A cena da novela acabava em chamas e no ar do abismo que engolia tudo. Era o fim. O discurso do final. Ele sentiu seus olhos arderem em lágrimas. Apertou o pulso com os dedos. Ainda estava, existia. Seguia seu caminho até a outra esquina, cotovelo cósmico de seus amores.