O final de um livro que nunca existiu

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Ele atravessava a praça e garoava fino. Usava blusa quente e cachecol. Parou em frente à vitrine e viu o discurso na tevê.

“A leveza da vida. A densidade da alma. Um texto pesado começa assim.Em silêncio se eleva em letras e logo acelera. Leva você para longe. E nada mais pode ou existe além da palavra e da arte. Eu sou música e sentido, eu sou o que penso em ser e eu sou apenas sou e, sendo, sigo sendo eu mesmo. Repetido, confuso e texto, palavra e letras. Só precisam estar. O sentido é de cada um.”

A cena da novela acabava em chamas e no ar do abismo que engolia tudo. Era o fim. O discurso do final. Ele sentiu seus olhos arderem em lágrimas. Apertou o pulso com os dedos. Ainda estava, existia. Seguia seu caminho até a outra esquina, cotovelo cósmico de seus amores.

 

Sobre Belão

Escritor, Professor e Publicitário. Não necessariamente nessa ordem. "Ele soava como um delírio de uma mente cansada da banalidade do segunda-à-sexta. Parecia daqueles que desfilam descuidados pelas ruas, sem se deixar afetar por nada ou ninguém. Com estilo próprio por excelência de consciência e com personalidade mais do que confusa pela falta de linearidade de todas suas idéias, pensamentos, ironias, citações e crises apocalípticas de descontentamento pelo mínimo que o existir exige."
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